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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Estão Misturando tudo, e a igreja como fica?

Religiosos afastam dilema ético e defendem apoios a candidatos


Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo
Comunicar erro Imprimir Líderes religiosos que manifestam opiniões ou estão envolvidos em campanhas eleitorais consideram que o apoio aos seus candidatos é legítimo, não fere a legislação eleitoral e até faria parte da conduta esperada de lideranças e entidades cristãs. Segundo eles, não há problema ético em defender candidaturas, chapas ou partidos. O apoio de denominações religiosas gera neste ano embates em, ao menos, três capitais: São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.

RELIGIÃO NO BRASIL

Católicos 64,6%

Evangélicos 22,2%

Sem religião 8%

Fonte: IBGE

Assim como aconteceu nas eleições de 2010, quando manifestações da então candidata a presidente Dilma Rousseff (PT) a respeito da prática do aborto levaram os religiosos a se envolverem na disputa.

Em São Paulo, o candidato líder nas pesquisas, Celso Russomanno (PRB), pertence a um partido cujo presidente e coordenador de sua campanha, pastor Marcos Pereira (bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus), foi alvo de críticas do arcebispo dom Odilo Scherer --que respondeu a um texto publicado no blog de Pereira que atrela a distribuição do chamado "kit gay" à Igreja Católica. Dom Odilo acusou Pereira de intolerância religiosa e perseguição aos católicos.

A Igreja Católica realiza nesta quinta-feira (20) um colóquio entre os candidatos ao pleito da capital paulista em colégio na zona leste da capital paulista. Russomanno recusou-se a participar. O UOL transmitirá ao vivo o evento, a partir das 15h.
No Rio de Janeiro, o atual prefeito Eduardo Paes (PMDB) concentra o apoio da maioria das entidades evangélicas mesmo erguendo bandeiras que têm a antipatia dos religiosos, como defesa de direitos civis de homossexuais. Já em Curitiba, os principais candidatos travaram uma guerra pelo apoio das principais instituições da fé.

RELIGIÃO EM SÃO PAULO

Católicos 6,5 milhões

Evangélicos pentecostais 1,5 milhão

Evangélicos não-pentecostais 600 mil

Fonte: Datafolha

O apoio de instituições e líderes religiosos faz diferença em uma eleição. Pesquisas eleitorais que identificam o credo do eleitor apontam que candidatos que recebem o apoio de determinada religião apresentam desempenho melhor neste nicho, como é o caso de São Paulo.

O pastor Silas Malafaia, principal liderança da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que arrebanha metade dos 42 milhões de evangélicos neopentecostais no Brasil, defende, em Curitiba, Ratinho, no Rio, Eduardo Paes (PMDB).
O religioso diz não ter problemas em fazer campanha para os candidatos que apoia, aparecendo inclusive em "santinhos" na eleição do Rio de Janeiro. No entanto, Malafaia não deixa claro se pede votos de cima do altar.

No início desta semana, ele esteve em Curtiba, onde anunciou que seu apoio na capital paranaense vai para Ratinho Júnior (PSC). A definição foi precedida por uma disputa, quando parlamentares evangélicos chegaram a dizer que Malafaia apoiaria a candidatura do atual prefeito, Luciano Ducci (PSB).

"Eu apoio o Ratinho e está acabado. Se o prefeito for à minha igreja, vai passar vergonha, porque eu vou dizer na cara dele que meu apoio é do Ratinho”, afirma. "Já falei com o Ratinho: a hora que ele precisar, eu gravo [participação no horário eleitoral gratuito]. A última vez que estive em Curitiba, ele estava no culto comigo, e eu disse isso pra ele."

Em São Paulo, o pastor não definiu apoio a nenhum candidato no primeiro turno, apenas afirma que é contra o candidato petista, Fernando Haddad.

ELEIÇÃO X RELIGIÃO

Arcebispo ataca coordenador da campanha de Russomanno

Russomanno diz que sua participação em evento da arquidiocese está 'nas mãos' de d. Odilo

Cardeal alega agenda cheia e não recebe Russomanno

Em comunicado, arquidiocese lamenta recusa de Russomanno de participar de colóquio

Ainda na capital paulista, o pastor Marcos Galdino, da igreja Assembleia de Deus - Ministério de Santo Amaro, que contabiliza 82 mil fiéis em São Paulo, diz apoiar Russomanno.

No início deste mês, o pastor pediu, no altar, que seus fieis não só votassem no candidato do PRB, mas que também convencessem mais cem pessoas a fazerem o mesmo. O pedido foi feito durante visita do candidato ao templo, e pode gerar multa de até R$ 8.000 caso a Justiça Eleitoral considere que o ato fere a legislação acerca do tema.
De acordo com o pastor Renato Galdino, coordenador político da congregação, a igreja distribuirá 1,2 milhão de cópias de uma carta – “Carta Aberta aos Cristãos” – assinada pelo pastor Marcos Galdino, pedindo voto para Russomanno. Há também produção de cavaletes e santinhos. Pastor Renato afirma que não haverá contrariedade à lei. "Não distribuiremos santinhos dentro dos templos."

O que diz a lei?
A legislação eleitoral (lei 9.504/97), proíbe "veiculação de propaganda de qualquer natureza" nos chamados "bens de uso comum". A mesma norma define o que seriam esses bens: "cinemas, clubes, lojas, centros comerciais, templos, ginásios, estádios, ainda que de propriedade privada".

Pela lei, é proibido distribuir santinho dentro da igreja, assim como pregar cartazes em favor de uma candidatura.
A legislação, no entanto, não deixa claro se o pastor ou líder religioso pode pedir voto de cima do altar. Os tribunais brasileiros ainda não pacificaram a questão. Há decisões que consideram ilegal a conduta. Há outras que entendem que a fala de um pastor não pode ser considerada "peça de propaganda", como é um cartaz ou um panfleto. A multa prevista caso a Justiça que houve ilegalidade vai de R$ 2.000 a R$ 8.000.

Alguns religiosos, entretanto, não estão preocupados com a questão legal, e pautam seus posicionamentos em estudos teológicos. Para o líder evangélico Roberto Falbo, fundador de uma entidade que agrega várias igrejas cristãs, chamada "Amigos de Cristo", cabe às igrejas e aos cristãos participarem ativamente da política, mas jamais associar-se a um partido político.

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